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Quem Somos
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A Orientavida nasceu em 1999, quando eu e João, meu marido, trouxemos minha mãe para ensinar bordado e costura às mulheres de Potim, cidade do interior de São Paulo, na região do Vale do Paraíba. Minha mãe sabia bordar e costurar muito bem. Nossa Potim, bairro rural emancipado de Guaratinguetá, crescia de modo rápido e desordenado e as mulheres não tinham trabalho nem renda para sustentar as famílias.
Imaginamos mudar isso se elas fossem capacitadas.
Sempre acreditei que a promoção da assistência social e o combate à pobreza extrema e à desigualdade só têm resultados duradouros por meio de projetos de educação, e não apenas assistencialistas.
Começamos a oferecer aulas. Mas a mão de obra especializada que formávamos não bastava, pois não se encontravam compradores para a produção de lindos bordados e costuras. Era preciso ir além da capacitação; e ampliamos nosso projeto. Passaríamos a vender os produtos que as artesãs produziriam. Nosso primeiro cliente foi a Daslu, que nos encomendava produtos de moda, bebê e decoração.
A Orientavida cresceu com o perfil de geração de renda para as artesãs. Em 25 anos de trabalho intenso, que comemoramos em 2024, abrimos novas frentes. Trabalhamos desde o início com mulheres em situação de vulnerabilidade social e conhecíamos suas carências – em especial na saúde, como a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama.
Em 2008, fomos convidadas para divulgar a chegada do movimento Outubro Rosa ao Brasil. Logo vimos que era um tema para ser trabalhado o ano inteiro, não só em outubro. Nasceu o Pense Rosa, lançado em 2009 como campanha de prevenção do câncer de mama. Foi um momento de virada para a Orientavida.
Buscamos novas parcerias e percebemos, mais uma vez, que era preciso ir além: à conscientização para a prevenção, agregamos a oferta de exames e diagnósticos como alternativa às limitações do sistema público de saúde.
Seguimos alargando nossa pauta de capacitação e renda até que tivemos de fazer outra virada, num quadro de crise global: o momento em que a Covid-19 ameaçou a sobrevivência de famílias, negócios e atividades no Brasil e no mundo.
Ana Eliza, minha filha, tinha se juntado a nós em 2019 para me ajudar na exaustiva gestão dos projetos. Começou pelo aniversário do Mickey, personagem que completava 90 anos em 2019. A Disney, parceira licenciadora desde 2009, nos convidou para produzir essa exposição de grande sucesso: mais de 123 mil visitantes em 93 dias. Ainda somos, 15 anos depois, a única ONG no mundo licenciada pela Disney para produzir localmente seus artefatos.
Minha filha diz que até então éramos um pequeno ateliê que produzia peças diferenciadas e complexas para marcas que não tinham volume expressivo. Nosso impacto em capacitação, trabalho e renda era reduzido. Mas vimos que seria possível ganhar uma escala maior, desde que investíssemos mais tempo e energia na formação das pessoas, nas busca da matéria-prima e na gestão da cadeia de suprimentos.
A pandemia tornou esse passo mais urgente. O choque em Potim foi enorme. Nossa região turística – muito dependente do turismo religioso de Aparecida -, sofreu um colapso, com tudo fechado e todos trancados em casa. Lá, 93% da população ativa não tem trabalho formal.
O choque nos moveu. Na primeira parceria da era da pandemia, produzimos mais de 500 mil máscaras de proteção que a Uber encomendou para distribuir em postos de higienização pelo país. Para a Orientavida, foi a volta ao trabalho e o fim do risco de colapso. Para as mulheres mobilizadas na produção das máscaras, foi o resgate de seu ganha-pão. Distribuímos kits de costura não só às que já trabalhavam conosco, mas também a novas centenas de artesãs que formamos de maneira segura.
E o futuro? Desde 2019 Ana Eliza é a gestora da Orientavida e vai ajudar a construir os próximos 25 anos. João foi meu maior incentivador para criar a ONG e para que eu me dedicasse integralmente à Orientavida. E continua sendo a pessoa fundamental na nossa estrutura e quem me dá todo o apoio para seguir no projeto.
Continuaremos a abrir novos caminhos. Um deles, para celebrar os 25 anos, é o Mulheres Circulares – projeto que alia formação e renda, dedicado à capacitação profissionalizante de mulheres em extrema vulnerabilidade. O propósito da Orientavida não é só fazer produtos bonitos; é mudar e transformar famílias vulneráveis em famílias felizes.
Maria Celeste Chad
Novembro de 2024